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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Meio

vitória dobra as folhas e joga-as longe. não, não pode ler mais do que já leu. nem ao menos chorar mais por um amor que não é o seu. os olhos inundam as bochechas de lágrimas. ela sofre sinceramente por um amor que não é seu. e sofre, principalmente, por não ser seu, mais do que por ser um amor. fere saber que os românticos não foram extintos e, mesmo assim, não lhe aparecem no caminho. não lhe mandam uma carta dizendo para esperar a eternidade e nem selar com um beijo cheio de saudade do cheiro de fruta que tem em seu corpo. ela não tem cheiro de fruta, é verdade. mas também não tem ninguém que lhe cheire a nuca e diga que gosta. não tem. simplesmente espera cartas que não chegariam nunca, porque não encontrou quem as mandasse. ou encontrou e, quando menos esperava, foi embora. ela não sabe cultivar um amor. não sabe regar, não sabe dar tempo e espaço para criar raízes. então, chorando as lágrimas que não eram para ser suas, percebe que sua fé na vida é vontade de encontrar alguém para amar - um amor que sabota sempre e continuamente, reabastecendo a fé com a desilusão.

rasga o envelope de olhos fechados. não quer saber o nome, não pode ter certeza de que a carta não é para ela. a carta poderia ser de tereza e quem lhe escreveu fo o homem da fotografia antiga. se não tivesse rasgado, saberia em qual mesa deveria ter ido parar a correspondência, mas que acidentalmente tornou-se a sua. deu sorte que, desde o cabeçalho, os nomes foram trocados por apelidos carinhosos no diminutivo. sente-se amorzinho, queridinha, maçãzinha. faz-se vocativo. apronta o quarto interno do coração para o sentimento novo que chegou. afofa a cama, ajeita o tapete. e espera. troca a roupa, limpa a maquiagem, suspira altiva. e espera - de novo. não se cansa e não perde a força.

marcos pinta freneticamente. não quer perder nem sequer um detalhe da imagem que guarda na memória. o vermelho vivo parece esfumaçado - quando visto nas pálpebras. mais escuro, parece sangue. parece vivo e, por isso mesmo, real. tem vontade de beber. e já não sabe mais se a vontade é de abocanhar como uma fruta ou sorver como um licor. não sabe. será que embriaga? pensa. delira. gira no quarto com a palheta na mão e a mistura entre as matrizes. cria cores que não será capaz de reproduzir. e por quê? porque esse é um quadro único. é sua obra-prima. sua avó choraria vendo-o. seu pai se orgulharia. é tão intenso que parece ser dotado de forças vitais. não faz rascunho. não precisa. tem vontade de pintar as paredes, o chão, o céu. tingir as folhas das árvores de vermelho! o mundo vermelho, uma grande e suculenta maçã. viveria como um desses bichos que comem o fruto inteirinho por dentro e deixam a polpa podre. a cor viva - mesmo assim. viveria imerso, afogado no suco agridoce da maçã. alguém que acredita no amor, diria que ele sofre de paixão. assim, devastadora, à primeira vista. paixão: com todas as letras e no aumentativo preciso do tamanho desacerbado de seu sentimento. e a cor? escarlate. vermelho. rouge. sempre. sente vontade de abrir a porta, atravessar a rua correndo, bater à porta do outro lado e implorar.

abrir o coração sempre cheio de amarguras e cicatrizes. e deixar plantar algo de lindo e novo. mas não abre a porta. não gira a chave. não corre pela rua. não se move. estanca a pincelada. o quadro vai virar artigo de luxo na próxima feira. seu pai não vem ver. sua avó não vem ver. algum dia, alguém numa sala bem decorada, vai olhar para o quadro e perguntar sobre o pintor. mas a dona não saberá nada a respeito. comprou na feira, assim: a preço de nada. quase de graça. um quadro expressivo, assim com pinceladas tão fortes e grossas de vermelho. tons tão diferentes. e esse mesmo alguém, inspirado pela arte, vai compor um série imensa de quadros chamada fogo e vai vender na europa. mas marcos nunca saberá, porque não sai de casa. não sai do quarto. não enfrenta a vida. viveria um grande amor, mas acaba em uma pintura fria.

mas isso é só o meio da história, tudo é sempre um meio. temos fins e começos, mas que se trançam em tantas outras histórias - que já existem no mundo e estão pela metade - que acabam se tornando meios. caminhos. fios de uma única manta, rezas de um único mantra. e, então, quando achamos que encerra-se um ciclo, um outro se inicia. não vivemos em círculos, mas em espirais. dando voltas e voltas - vez ou outra temos breves pausas para não enjoar. mas gira-se. move-se sempre. como se a vida fosse um trilho e nós, sentados no carrinho de montanha-russa, aproveitássemos o passeio cheio dos seus loopings. existem sempre infinitas histórias que poderiam vir-a-ser, mas que não são, porque um pouco antes de acontecerem, alguém desvia de caminho, alguém evita, troca, estende. e toda mudança gera novas possibilidades, altera os fatores das probabilidades todas. não há laço que não amarre outro fio. sempre assim, o tempo inteiro.

e tereza, que já perdeu um amor, contempla de sua janela outro ser desfeito - antes mesmo de começar - e sorri desconsolada por causa disso. sente o peito apertar. por quê? não sabe. mas sente, aprendeu a ser sensível desde pequena, quando o pai foi embora e nunca mais voltou. aprendeu a buscar amor em outros braços. aprendeu a por a mesa e fingir que, na verdade, é só uma vontade de deixar tudo arrumado. faz chá de maçã, por causa da árvore que tinha no quintal. aprendeu doendo a ser sensível à beleza. e ter paz. sempre que reflete sobre a própria vida, gosta da epifania que tem quando percebe que é de paz a essência que lhe infla. faz silêncio. a mão sobre o braço desnudo está meio fria por causa do vento que sopra fino, parece cócegas. antes de virar-se para pegar uma blusa, ora por alguém que nem imagina o nome. só ora. e observa. e espera - por um fim que seja começo e meio ao mesmo tempo.

o sol poente tem cor de maçã.


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Divulgação/Facebook

Stefano Manzolli, dezenove anos, adventista do sétimo dia, escritor de blog, desenhista de moleskine, estudante de letras. um grande aprendiz da vida que não domina muito bem a arte, mas que tenta melhorar com o tempo. aprendeu a ser grato a Deus e não sabe mais viver sem redes sociais: tem tumblr
web-booktwitter e facebook . gosta de conhecer e experimentar o mundo através dos outros e das coisas que escreve.





Esse é o ultimo conto de Stefano, relembre Maçãs , Marcos ,Tereza e Vitória

**Manzolli é o convidado e amigo de Dani para a web-serie CONTO 4 CONTO.
ela acontece as quintas-feiras!**

quinta-feira, 21 de junho de 2012

maçãs


tereza, naquela manhã, pouco antes de se colocar ao pé da janela para esperar, mas logo em seguida a terminar de escovar seus dentes depois do almoço, retirou uma foto da gaveta. poderia ser preto e branco, talvez bem tirada, num estúdio, como essas todas que avós costumam guardar para lembrar dos parentes que já morreram faz um tempo. mas aquela foto não era boa, de jeito nenhum. era uma foto feia: tirada na praia, contra a luz, um pouco tremida. o homem, de sunga azul claro e chapéu de palha, fazia graça pra câmera. algo como uma careta com o corpo todo retorcido. os óculos de sol parecem tombar do rosto magro e, por causa do movimento, há uma nuvem de areia circundando tudo isso. é uma foto estranha, porque quem tirou provavelmente ria e, assim, deixou cortar um pedaço da cabeça e desenquadrar o corpo do meio do papel. mas, no fundo, por causa de tudo isso é uma foto linda. não é de estúdio, não é pensada: é uma foto. é um fragmento de vida, é um desses sorrisos sinceros que, de tão largos, deixam o rosto meio deformado: o nariz desce meio adunco, as orelhas correm pra trás, as bochechas se enrrugam, os olhos meio fechados. e essa estranha combinação é a beleza do sorriso. é a beleza que existe em quem é alegre. tereza passa um dos dedos enrugados sobre a feição, como se pudesse tocá-lo, parece que está triste e feliz ao mesmo tempo. diz um amém baixo, quase sem força. e então põe-se na janela. a brisa em seus ombros. olha pra baixo, percorre todas as pessoas que estão na rua com seus olhos atentos e tem sua atenção chamada por uma menina de vermelho. por um carteiro que lhe entrega uma carta. ah, como queria que fosse ela! tem vontade de tomar chá para acalmar a alma. chá de maçã.

uma carta para mim? sim, você não estava esperando? vitória pensou em mentir, dizer que não, nunca espero cartas. não, nunca abro a caixa de correio. oh, como estou surpresa. espero, moço, foi o que disse por fim, espero sempre e nem sei o porquê. espero uma carta que não sei da onde vem e nem por que vem. espero todos os dias que uma vinda, na verdade, um regresso, um hiato na estrada de alguém que seja aqui: na minha caixa de correios. espero que alguém se importe e me mande dizer, via papel e tinta, que sente minha falta. eu espero. e talvez a partir de hoje eu não precise mais. o carteiro deu uma risada - era dessas pessoas que sabem apreciar a poesia da vida quando ela surge assim, do nada, no meio de uma entrega pelos lábios vermelhos de uma menina vermelha numa manhã de sol. quem é que mandou? pergunta um pouco para si mesma, um pouco para o rapaz. bernardo mandou - respondeu quase ao mesmo tempo, ele com a certeza de que ela o conheceria, ela com a dúvida de que o nome nunca lhe passou nos lábios. agradece a carta, ele cumprimenta-a uma última vez abaixando o rosto, revelando o topo azul do chapéu amarelo. vitória senta-se à mesa, o envelope colorido em mãos - as quais formigam levemente. é nervosismo, ela sabe. ela não quer abrir, ela não pode abrir. porque não é para ela. com certeza não. mas também não tem coragem de virar o envelope e ver o nome do remetente. tateia vagarosamente e percebe que a carta é grossa, pelo visto é longa: de alguém que tem muito para falar. aos poucos, como se fosse um ritual sagrado, rasga a lateral do papel, tomando cuidado para não rasgar a carta, nem sequer uma beirada. faz isso com precisão cirúrgica e coração de apaixonado - que treme quando se vê diante do fragmento de quem ama. sonha que, talvez, bernardo lhe ame. assim às escondidas. mas ela não sabe quem ele é. com certeza, não. e a quebra da sua expectativa, então, é saber de quem bernardo fala e como é que fala. e porque fala. espera que seja uma carta de amor. espera amar um amor que não é dela, mas lhe chegou nas mãos.

marcos fica observando-a do momento em que pega a carta nas mãos. em que fala uma porção de coisas bem alto para o carteiro - que não entende, mas balança a cabeça compreensivo. vê quando gesticula tanto com as mãos que parece, na verdade, estar dançando com um parceiro imaginário. é bonita. de todo, assim de longe. como uma formiga vermelha. parece uma maçã, ele pensa e, por causa disso mesmo, tem vontade de mordê-la para sentir o sabor. e ter o suco escorrendo pelos lábios. para saber a cor que esconde por dentro, debaixo do casaco - ou seria sua pele? - vermelho. observa-a hipnotizado, seus passos, como tateia vagarosamente a carta, com o maior respeito. quem é que lhe mandou? não sabe. não há como se saber se não descer as escadas do prédio, bater em sua porta e perguntar. mas tem vergonha de fazer isso, tem vergonha do amor. tem vergonha de sentir amor, de querer amor, assim facinho. dado de graça por causa de uma carta, um casaco vermelho, um quadro inacabado e meia dúzia de rascunhos jogados pela janela como se fosse uma chuva de papel picado. tem medo de sorrir, mesmo que agora sinta uma vontade imensa. sim, precisa de um sorriso, precisa gritar espere, menina! mas não grita. não se move, fica e nesse ato de ficar, decide pintá-la. acha melhor pintá-la de costas, sem olhos, sem mãos. sem esses signos todos que lhe perturbam em quadro de gente. não quer ter a aflição do piscar ausente e nem os lábios que não gritam e não falam e não se mexem. quer deixar assim de costas e morrer de uma tentação maluca de cutucar-lhe o ombro e esperar que vire. também não vira e, por causa disso mesmo, maçãzeia-se cada vez mais. um fruto maduro esperando a mordida do descobrimento. mistura dois tons de vermelho diferentes e começa com pinceladas fartas.

vitória abre a carta. evita as primeiras linhas, vai direto para a terceira página. bernardo diz que não aguenta mais a saudade das maçãs. das tortas de maçã, do chá de maçã, do cheiro da maçã - porque a pele dela, que ele tem tanta vontade de beijar de novo, tem cheiro de maçã. um cheiro gostoso de manhã nova, sempre e sempre. dela quem? vitória não quer saber. prefere não saber, porque é uma carta de amor que poderia ser pra ela. discretamente cheira-se, mas tem perfume de mel, por causa do creme. não é poético o seu cheiro. não é poética a sua vida e espera que um dia, quem sabe, uma carta venha lhe tirar da monotonia. e essa carta chegou - mesmo que não lhe seja endereçada.

tem chá de maçã no bule, tem cor de maçã no pincel, tem cheiro de maçã na vida, e três janelas abertas se olhando, se desejando. às vezes é preciso fender o fruto para viver um amor eterno, mesmo que não seja o seu. da distância da espera por algo que não virá ao seu encontro é preciso gerar uma força de correr em busca do que se esconde. era um bairro esse no meio de uma vila comum. Cheio de histórias incríveis.

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Stefano Manzolli, dezenove anos, adventista do sétimo dia, escritor de blog, desenhista de moleskine, estudante de letras. um grande aprendiz da vida que não domina muito bem a arte, mas que tenta melhorar com o tempo. aprendeu a ser grato a Deus e não sabe mais viver sem redes sociais: tem tumblr
web-booktwitter e facebook . gosta de conhecer e experimentar o mundo através dos outros e das coisas que escreve.










Esta são maçãs, relembre Marcos ,Tereza e Vitória

**Manzolli é o convidado e amigo de Dani para a web-serie CONTO 4 CONTO.
ela acontece as quintas-feiras!**

quinta-feira, 14 de junho de 2012

marcos.


marcos desenha maçãs. e mãos. mas principalmente maçãs e outras frutas que ele não gosta de comer. nunca gostou - a maioria nem sequer provou. acha estranho o fato de morder alguma coisa que fica fendida do lado de fora da boca. as poucas frutas que come são pequenas: às vezes uvas; às vezes morangos. mas acha morangos azedos e, sabe-se lá o porquê, acha a vida também azeda. e por isso evita ambos: morangos e viver. gosta de sorvete, mas nunca viu um quadro de sorvete. nas aulas de pintura, durante a faculdade, aprendeu a pintar cestas de frutas. e a reclamar. reclamar muito e tudo. ele é amargo, como os morangos que evita.

hoje desenha maçãs, que gosta de comer quando picadas. está fazendo uma série de quadros, conseguiu uma galeria, pela primeira vez, para expor os seus trabalhos. faz quatro anos que pinta e faz oito que frequenta a feira livre e vende para madames - que compram frutas de verdade e de tinta. não sabe se comem ou se enfeitam as salas com toda aquela tralha. mas ele não se importa em ser jogado no lixo, desde que tenha dinheiro para comprar mais tinta e pagar as contas. não sobra quase nada, mas ele mora com um amigo - que trabalha numa dessas empresas grandes que pagam por hora. ganha bem, paga a maior parte do aluguel. os dois se conhecem desde pequenos, dizem que são quase irmãos. e marcos aceita a irmandade e explora quando o dinheiro acaba. não é por mal, mas é por necessidade mesmo. nem sempre querem comprar frutas de mentira, nem sempre vende muito. às vezes, quando chega no final do mês, olha para as coisas que tem que pagar e ei, jorge! será que você pode me ajudar esse mês? a grana a grana tá curta - jorge completa. já conhece o discurso, nem responde, nem tenta lhe dizer para fazer algo decente da vida mais. não diz mais nada. aceita e paga. é por amor de irmão que faz isso. sente-se mais velho - mesmo sendo mais novo que marcos - mas sente-se em posição de protegê-lo

e, por isso, marcos tem certa vergonha dele. não gosta de pintar quando está perto. tem um bloqueio. teme o que jorge pensa da sua vida, o quanto lhe acha um perdedor, um frustrado. estudou artes por quatro anos para afrontar o pai, que não lhe viu formar: morreu de tragédia, mas não comenta nada sobre isso nunca. é por isso, jorge disse uma vez para uns amigos num bar, que não pinta pessoas. é um medo de reproduzir a vida e eterniza-la de certa forma. se pintasse um olhar distante e de ressaca, por mais que os anos passassem e a tinta se apagasse um pouco por causa de uma falta de cuidado crônica, continuaria assim: distante e de ressaca. e a expectativa de que, um dia, pisque, lhe amedronta. não consegue frequentar salas com rostos de gente, os olhos abertos sempre. muitos olhos, todos olhos. quantos olhos existem no mundo? muitos, menos os de seu pai. acorda suado e afogado quando sonha com o pai e levanta-se, no meio da noite, como hoje, tranca-se no quarto e pinta. hoje pinta maçãs, porque só se acalmou quando lembrou do cheiro da apfelstrudel de sua avó - na saudade, sentiu paz. sempre assim: preso ao passado, amarrado, tentando se desculpar ou, ao menos, provar que fizera a escolha certa.

desenhou maçãs a manhã inteira. não voltou a dormir. almoçou fazendo rascunhos, não conseguiria descansar em paz enquanto sentisse o cheiro de torta. é a primeira vez que pintará pensando na avó. achou que, enfim, seria uma boa homenagem a ela. ela que terminou de bancar seus estudos, mas ele tem uma relação estranha com as memórias dela. toca-as somente às vezes como se fossem sagradas, um altar que só pode visitar em dias muito especiais. faz uma reverência, por isso a maçã deve ser perfeita. mas não consegue. nunca acha que a maçã está boa, sempre encontra defeito, esquece. joga os desenhos pela janela, num momento de raiva. já é quarta, sábado e domingo tem feira, precisa vender, porque o final do mês está chegando e tem vergonha do jorge. de pedir de novo que ele pague a net, que ele pague a luz, que ele sustente seu sonho. toda vez que jorge paga a conta, no fundo, marcos se lembra de seu pai lhe mandando fazer outra coisa. mas finge que não é por isso. finge que é por não gostar de explorá-lo - apesar de gostar.

ele finge um monte de coisas, por exemplo, não se importar com o fim de seus quadros. finge que não está morrendo de felicidade pela galeria que lhe pediu para expor. finge que é triste, na verdade. finge que acha morangos azedos, finge que acha a vida azeda, tudo por que, um dia, jogou a vida bonita que tinha no lixo. seguiu um caminho errado e acha que, por isso, tem que ser triste sempre. tem que sofrer. tem que comer morangos como se fosse remédio. tem que desenhar frutas e contar quantos pares de olhos estão andando pelas ruas. a aflição que pisquem. espera ansioso que pisquem. precisa que pisquem, porque essa é a sua esperança de que estão vivos e não pintados numa parede da vida.

gosta da vida, no fundo. e gosta muito. mesmo que dissimule, morre de vontade de viver. e é dessa vontade que, depois de jogar os desenhos pela janela, olha para baixo para vê-los tocar o chão. mas não, esquece os papéis quando para os olhos numa moça recebendo uma carta. tem vontade de pintá-la. ela usa vermelho, parece uma maçã.
uma maçã perfeita.


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Stefano Manzolli, dezenove anos, adventista do sétimo dia, escritor de blog, desenhista de moleskine, estudante de letras. um grande aprendiz da vida que não domina muito bem a arte, mas que tenta melhorar com o tempo. aprendeu a ser grato a Deus e não sabe mais viver sem redes sociais: tem tumblr
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Este é Marcos, relembre tereza e vitória 

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

tereza.



e ficou na janela. assim, uma mão sobre a outra, um braço meio cruzado sobre o outro. parecia que esperava algo. mas tinha os olhos vazios, fixo nas folhas da grande arvóre à frente de sua casa. algumas estão amarelas - sintomas dessa estação fria, seca e dilacerante que enfrentava. outono. vem do grego, ela pensava, e quer dizer morte. quer dizer que a vida está em época de desvanecer, de acabar-se. sente o sopro - que também vem amarelo, porque essa é a cor da monotonia - do vento no rosto. os cabelos soltos, acabara de lavar, ainda um pouco molhados. finge que não espera, que não fez café novo. finge que não tem cheiro de bolo no forno e não tem fé no peito. finge que só olha para as folhas e, assim, faz-se estátua. como de sal. como de pedra. mas não de carne e osso e coração e sangue pulsando como era. cai mais uma folha da árvore. tem mais um pássaro que vem visitá-la. não, não vem por causa dela, vem pelo cansaço de voar e para no galho. fica quieto olhando-a nos olhos. olhos nos olhos, quero ver o que você faz. parece que canta. um canto amarelo. um canto doído, rachado.
outono vem do latim, na verdade, vem da mesma origem de ouro, por causa das cores. é o tempo em que tudo se camufla de dourado para não parecer tão solitário. para tentar disfarçar a necessidade de colocar meias. tereza não tem meias nos pés, pisa direto no chão. o chão frio, a vida fria. os olhos vazios de quem finge que não espera. mas o chão tão lindo, cheio de moedas-folhas de ouro. tem vontade de jogar-se dali de cima direto no colchão amarelo. será que morre? tudo morre no outono, mas ela não tinha medo da morta. aprendera a não temer, porque não é um monstro. era uma mulher de fé, sabia que a morte não era o fim. era o que dizia a bíblia - em cima da mesa, ao lado das xícaras dispostas. não por que esperasse alguém, mas dispostas para o caso de precisar servir. a casa arrumada. lera um salmo pela manhã, não se lembra qual o número, mas um bonito. deus lhe conhece antes de nascer. e por isso, talvez, convencia-se, duas xícaras: ela e Deus sentados à mesa conversando sobre o dia. ela e deus abraçados antes de dormir. ela e Deus na janela. a mão cruzada sobre a dela era divina. mas ela finge que não espera. finge que não se sente sozinha.
faz uma oração. aproveita esses momentos de silêncio para orar. outono vem do aramáico, da mesma raiz de paz. ninguém acreditaria se dissesse isso em voz alta numa roda de amigas ou num encontro de família. mas sentia uma paz enorme, inexplicável que vinha lhe preenchendo aos poucos com o vento nos cabelos. o cabelo molhado ainda morno. o rosto levemente maquiado para disfarçar a noite mal-dormida. faz tempo que não dorme bem e não sabe por quê. não, sabe sim, mas finge que não sabe. finge porque é mais fácil do que aceitar. só não entende como pode ter paz. se no fundo do coração tem uma tempestade tomando forma, tem um animal faminta berrando por leite. não entende como pode estar assim, plácida na janela, sorrindo para a criança que passa com a mãe carregando um balão. os dois levam um balão: o da criança, azul; o da mãe, de sonhos. essa paz é tua, Deus, diz em oração.
o bolo pronto no forno. o café frio. cai mais uma folha no chão. tem vontade de chorar, mas sabe que não pode, porque não espera. não, não espero! não espera nada. ela é forte, está na janela só para ver a vida, nada demais. é uma tarde como outra qualquer. não espero por nada, preciso tirar o bolo do forno. quem é que faz bolo no meio da semana numa tarde vazia? alguém que tem um encontro marcado com Deus? talvez. é isso que ela diz para si mesma, enquanto fecha a cortina, que voa com o vento que antes lhe mexia nos cabelos. outono vem do português, da mesma raiz que saudade.
outono vem do peito de tereza, que não sabe mais o que esperar. nem se deve esperar. mas, no fundo, calada, ainda espera, porque um dia lhe prometeram uma carta que nunca chegou. abre a bíblia. ela, Deus e um sol poente.


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Divulgação/Facebook

Stefano Manzolli, dezenove anos, adventista do sétimo dia, escritor de blog, desenhista de moleskine, estudante de letras. um grande aprendiz da vida que não domina muito bem a arte, mas que tenta melhorar com o tempo. aprendeu a ser grato a Deus e não sabe mais viver sem redes sociais: tem tumblr
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essa é tereza, relembre vitória

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aniversário


google

Olá para você novamente, leitores do Nestante!

Aniversário, aquele dia do ano em que (poucas) pessoas importantes te mimam e(muitas) pessoas que você nem lembrava que existia postam mensagens no teu mural do Facebook! Pode contar aí, agora, nos dedos de uma mão os amigos que sabem o dia do seu aniversário de cor! Os que ligam, te visitam, mandam mensagem…

Geralmente há um almoço de família, que a mãe insiste em chamar tios, primos, avós, vizinhos, papagaios e periquitos. Aí chega aquela muvuca e começa aquele papinho:
"E aí fulano/a, está ficando velho hein?!
Sem namorada/o ainda? Cuidado, vai ficar pra titio/a!
E essa pança aí?! Tem que cuidar pra não ficar obeso!
Passou no vestibular? Não? Quando vai tomar vergonha nesta cara?".

Eles são especialistas em deixar qualquer um sem graça! O que salva é aquela lasanha especial, sua favorita. Eles cortam para você o maior pedaço, tão grande quanto a barriga do tio João, sentado ali no canto da mesa. E depois vem aquele bolo de sobremesa, com uma cobertura que é pura gordura. E presentes! Parentes adoram dar presentes! Um par de meias, um porta-retrato, uma camisa do time preferido da pessoa que deu (que não é o mesmo time que você torce), um chaveiro…

A comemoração com os amigos é diferente, a gente se sente mais a vontade. Aproveita que a galera está lá pra, disfarçadamente, chamar a menina/o da vez. Afinal, vai que ela/e já saia de lá amiga/o dos seus amigos? Ponto para a idéia genial. E… de repente… você vai para o chão! Caramba, o que aconteceu? BO-LI-NHOOOO, um tanto de marmanjos em cima de você fazendo peso. Quem foi a criatura abobada que inventou que essa brincadeira era legal? Quer saber? Melhor pegar mais um refrigerante no freezer porque este já está acabando. Pausa para uma foto, você ajunta com os colegas, um faz chifrinho, um faz cara de limão azedo, outro coloca a mão na sua cara pra te 'trollar'. Lá fora, no banquinho, um casal amigo está 'no maior love', parece propaganda de desentupidor de pia. Sempre tem esses seres que acham que o mundo se resume aos dois. Chama a galera para jogar UNO, o príncipe das reuniões festivas. Um "+4" aparece, seguido por outras 4 cartas iguais, ô fulano, compra 16 aí! Amarelo é a cor da vez, depois verde. Um sete é jogado e mãos voam, parece um trailer de UFC.

Não importa com quem você comemore, seu aniversário você passa com quem você ama! É um dia único, passa rápido e tem que aproveitar o máximo! Depois disso, só daqui um ano… 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

#AmigosNestante - tipos de amizade, qual é o seu?


Amigos...

     Oi pessoal que está ai lendo o blog do Nestante, um blog que gosto muito. E  ao me convidarem pra fazer um post, vou confessar fiquei muito honrado com o convite, e principalmente com a oportunidade de escrever para vocês.
      Eu tenho uma grande dificuldade em começar a escrever um post, pois começar  já com o tema, creio que não é uma boa ideia e começando assim vejo meio descontraída tanto pra mim, como para os leitores.
      E lendo o post da Lisy, na semana passada quem já não passou por aquela situação? Sem assunto no telefone, tem alguns aí que são experts nesse assunto, sabe tipo eu (risos). Mas com certeza você que passa por essa situação, pelo menos com algum amigo você consegue conversar de boa, por horas interruptas.
    E analisando os meus amigos, eu vi que nós temos vários tipos de amigos e quero mostrar o meu ponto de vista sobre esses “tipos de amigos”.
·               Best Friend: aquele melhor amigo que você tipo ama mesmo, que você briga, conversa o dia inteiro, tem ciúmes, para de falar. Mas depois volta tudo ao normal, como se nada tivesse acontecido.
·               Amigo desde sempre: sabe aquele amigo que você conheceu na pré escola e estudou a vida inteira junto com ele, que se você for um garoto e esse tipo de amigo for uma menina, ela é um moleque pra você, pois a amizade sempre existiu.
·               Amigos recentes mas como se fosse de sempre: Aquele amigo, que você conheceu no Ensino Médio, mas parece que você o conhece desde sempre e é muito especial pra você.
·               Amigo irritante: Aquele que implica com tudo o que você faz, aquele que você abre a boca e ele ta olhando pra você pra te irritar, se eu não gostamos deles? Amamos pois fazemos o mesmo come ele.
·               Amigo Zuado: Aquele que não pode falar um A, que é zuado a semana toda, ou apenas falar como o cebolinha, é motivo pala zuamos eles a vida toda.
·               Amigo Anjo: Aquele que caiu do céu pra você, que é o único que te escuta, que você pode confiar pra ter um ombro pra chorar e um ouvido pra desabafar.
·               Amigo que insiste ser seu amigo: Sabe aquele que você tira toda hora?? Aquele que implora pra falar que ele é legal, que pede pra curtir a foto no facebook, também gosto desses!
·               Amigo a distancia: Aquele que você infelizmente só tem contato por Facebook, Twitter, sms mas se pudesse estaria lá com ele todos os dias.
·               Amigo Facebook: Aquele que você conversa a tarde toda no Facebook, mas quando se veem pessoalmente não conseguem falar direito sem gaguejar;
·               Amigo que voce não gosta perto do seu amigo: É não sei se você me entende, mas sabe aquela pessoa que é muito gente boa? Sim ele é gente boa, longe do seu amigo ahahha
·               Amigo presente: aquele que você sempre compra alguma coisa pra ele. ou aquele que quer te comprar com alguma coisa.
Olha pessoal, baseie todas essas categorias de amigos, nos meus amigos, vocês podem se perguntar, ele tem um amigo que quer ser amigo do seu melhor amigo? Tenho e não gosto nenhum pouco disso, mas gosto muito dele bem longe do meu melhor amigo. Tenho esses amigos que só falo no Facebook, Twitter.
Mas eu tenho certeza que a cada dia o que nós devemos é valorizar a nossa amizade, porque um dia elas podem acabar, mas aproveite enquanto dure, zoe muito o seu amigo, mas também agrade-o. Eles são os irmãos que nós pudemos escolher, e olha eu tenho escolhido muito bem.
Tenha vários amigos e amigas de monte, confie neles, e faça de tudo pra eles confiarem em você. Amizade é tudo de bom. Ore por seus amigos, peça a Deus a orientação para ter os melhores.
Mas o nosso MELHOR AMIGO é aquele que nos ama incondicionalmente, é aquele que sabe o segredo que você não conta pro seu best, é aquele que esta disposto a tudo e deu a Sua vida por todos nós!
Ele, com certeza não quer ser esquecido, lembre-se dele todos os dias!
Mas conte-me você os tipos de amizade que você tem. Encaixam-se na seleção ai de cima?

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Divulgação/Facebook


Gustavo Storari, ou simplesmente Guga, tem 17 anos é apaixonado por redes, música e é o diretor do fã clube oficial do Caixa de Música.
você fica sabendo mais dele  aqui:



**Guga é convidado para a serie #NestanteAmigos

UA-37135746-1